Em meio a uma conjuntura predominantemente negativa, nasceu o que podemos chamar de Momento Pró-Ciência. Um período potencialmente transformador de seu protagonismo, cujos impactos podem moldar o futuro. Quando a vida for voltando à (nova) normalidade, quando a vacina fizer parte dos calendários básicos de vacinação e quando algum outro tema dominar a mídia, será que voltaremos a ser a mesma sociedade de antes? Esqueceremos as cicatrizes para divergirmos sobre qualquer outra coisa? Ou usaremos os ensinamentos desta pandemia para valorizar e reconhecer o papel preponderante que a ciência possui em nossas vidas? A importância dada à ciência e a velocidade de resposta a uma eventual nova pandemia serão diretamente proporcionais. O momento vai passar, mas tais reflexões talvez sejam os legados mais evidentes que a COVID-19 irá deixar.
No que se refere ao Brasil, torna-se vital entender que os incentivos à saúde e pesquisa básica são investimentos imprescindíveis para o bem-estar da população. Recorrer à ciência com surtos já em curso custa mais dinheiro e mais vidas. Obviamente, esta não é uma discussão simples, visto que não há como se omitir ou postergar outras agendas e prioridades concomitantes e igualmente relevantes em um país com desafios tão abrangentes. Entretanto, também é crítico repensar os modelos atuais das universidades, questionando alinhamento à agilidade e necessidades do mundo “lá fora” e à postura relativamente contemplativa ao fomento do estado. Soma-se, aqui, a necessidade de maior participação da iniciativa privada em meio a esta dinâmica, expandindo sua presença local e ampliando as parcerias com entidades públicas.
Acima de tudo, esse ecossistema demanda atuação sinérgica, não permitindo se tomar partido (sem o perdão da palavra). Nenhuma esfera deve se preservar da responsabilidade e nenhum de nós esquecer do protagonista do momento. É verdade que ainda não temos resposta para tudo, mas muito provavelmente, sem a ciência não teríamos para nada.
Texto originalmente publicado no Correio Braziliense no dia 14.10.2020.
conservação da biodiversidade