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O trabalho de um biólogo sempre se inicia no campo
Por: Ivan Luiz Fiorini de Magalhães                       Repostado dia 25/05/2021Biólogo - Mestre em Ecologia pela UFMG. Doutor e Residente pós-doutoral no Museo Argentino de Ciencias Naturales, Argentina. Trabalha com Sistemática, Taxonomia, Ecologia e Biogeografia de aranhas









O trabalho de um biólogo sempre se inicia no campo. Muita gente pensa que isso só vale para aqueles que atuam em áreas diretamente relacionadas ao meio ambiente, como botânica, zoologia e ecologia. Mas mesmo bioquímicos, geneticistas e fisiologistas, entre outras áreas, estudam espécimes, linhagens de células, ou sequências de genes de organismos que um dia foram recolhidos na natureza. Assim, não é exagero dizer que o trabalho de campo é a pedra fundamental da biologia.

Ir a campo é especialmente importante para biólogos que estudam a biodiversidade, como os taxonomistas – os pesquisadores responsáveis por catalogar, nomear e descrever espécies. É muito comum que me perguntem “nossa, mas encontrar uma espécie nova é uma coisa bem difícil, né?”. A verdade é que existe uma grande proporção da biodiversidade ainda esperando por ser descoberta. As estimativas variam, mas se acredita que entre 50 e 90% das espécies que existem ainda não foram catalogadas pela ciência. E uma das formas de encontrar esses organismos ainda desconhecidos é justamente ir a lugares que ainda não foram estudados e coletar espécimes. Ou seja, mais de 200 anos depois das viagens dos primeiros grandes naturalistas, esse trabalho continua sendo importante!

Gostaria de dar o exemplo de uma viagem recente que fiz à Isla de Los Estados, uma ilha no extremo sul das Américas. Essa ilha faz parte da Argentina, e é a porção final da cordilheira dos Andes.
Imagem da Bocaina
Bem ali ó, no pontinho vermelho...

Como a maior parte do sul da Argentina e Chile, a vegetação predominante são os bosques de Nothofagus – um gênero de árvores aparentados aos pinheiros. Embora seja bastante frio, é também bastante úmido, e o resultado é um bosque realmente impressionante!

A coleta foi feita com colegas do Museo Argentino de Ciencias Naturales, de Buenos Aires, e do Centro Austral de Investigaciones Científicas, de Ushuaia. Nosso objetivo era amostrar vegetação, aves, e aracnídeos da Ilha, que é uma reserva ambiental da província de Tierra del Fuego. Obviamente, por se tratar de uma ilha, tivemos que viajar em um barco.
Aqui estão algumas das paisagens e bichos que encontramos por lá:
Entre o material que coletamos, já encontramos duas espécies novas – e isso porque não terminamos o processamento dos espécimes. Temos também temos material fresco para extração de DNA de várias espécies, que permite estudos de classificação baseada em sequências de DNA e de genética de populações. Por fim, todo o material ficará depositado na coleção científica do Museo Argentino de Ciencias Naturales, onde poderá ser estudado ao longo dos anos – muitas vezes se passam décadas entre um espécime ser coletado e descrito!

Assim, podemos dizer que o trabalho foi bastante proveitoso. Além do saldo científico, o trabalho de campo sempre tem outros ganhos. Tivemos a oportunidade de visitar lugares históricos, como uma das baías onde esteve atracado o Beagle, navio onde viajou Charles Darwin. A viagem sempre permite formar laços com os outros pesquisadores que fazem parte da expedição, e sempre resulta em bons ‘causos’ para serem contados depois. E não se pode deixar de citar as paisagens lindíssimas, de tirar o fôlego. Tudo isso me faz pensar que os biólogos têm um trabalho privilegiado, pois vivem experiências maravilhosas ao mesmo tempo em que podem contribuir para entender melhor o mundo em que vivemos.