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Autores do Blog Ciência em Ação

Por: Ricardo Bernardes de Oliveira
Postado dia 20/07/2022















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CONSERVAÇÃO NO BRASIL

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza – IUCN, conservação é o manejo dos recursos do ambiente, com o propósito de obter-se a mais alta qualidade sustentável de vida humana. Essa interação homem-natureza pressupõe ações e atitudes inteligentes na utilização dos ecossistemas, como também a melhoria das condições ambientais sem que esses ambientes percam sua originalidade, como por exemplo, reservas extrativistas onde comunidades locais tradicionais podem explorar os recursos naturais de forma sustentável.

O Brasil é o país que possui a maior biodiversidade do planeta, porém tem apenas cerca de 2.300 unidades de conservação. Dessas, no entanto, apenas 6% da área total estão em unidades de proteção integral, ou seja, aquelas que permitem apenas o uso indireto dos recursos naturais e atividades como educação, pesquisa científica e turismo.

O país ainda sofre com o tráfico de animais silvestres. Embora haja uma lei sobre crimes ambientais, na prática é o mesmo que não houvesse. Também não existe ação educacional, apenas punitiva. E quando da aplicação da multa, o valor é tão irrisório, que compensa, senão estimula o traficante a continuar traficando. Quando alguém é punido com prisão é aquele que entrou no tráfico por estar passando fome.

O CASO DA ARARINHA-AZUL

A ararinha azul (Cyanopsitta spixii) é uma das espécies consideradas prioritárias para conservação, tanto por ser endêmica e rara quanto pela ameaça de extinção. A espécie foi considerada extinta na natureza por mais de 20 anos, vítima do tráfico de animais silvestres, da degradação de seu habitat, do avanço do agronegócio, além da inexistente proteção governamental.

O PLANO DE AÇÃO

Dessa forma, foi oficializado com um pequeno atraso de 12 anos o Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-azul, o qual visa a reintrodução de uma população viável dessas aves em sua área de ocorrência original, a Caatinga até 2024, visando a conservando desse habitat e a participação de entidades ligadas a conservação como ONGs, especialistas em conservação, representantes das comunidades locais, setor privado (empresas florestais, mineradoras e operadores de turismo) com o intuito de desenvolver práticas socioeconômicas e culturais sustentáveis. Para isso foram implementadas em Curaçá, na Bahia, duas unidades de conservação com cerca de 120 mil hectares de caatinga para criação do Refúgio de Vida Silvestre e a da Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul.

A ACTP - ASSOCIAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DE PAPAGAIOS AMEAÇADOS

Um acordo entre o governo brasileiro, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ONGs brasileiras e a ACTP, ONG alemã, juntamente com outros parceiros possibilitou o repatriamento de 52 ararinhas-azuis. Essas ONGs ficaram responsáveis por construírem o Centro de Reprodução e Reintrodução das Ararinhas-Azuis, dentro das unidades de conservação cidade de Curaçá. Ao todo, foram investidos 1,9 milhão de euros no local – 1,5 milhão de euros na construção das dependências e 400 mil euros no transporte e preparação do Centro. O acordo também prevê aporte de 180 mil euros/ano para manutenção dos trabalhos pelos próximos cinco anos, quando o projeto será reavaliado. A contrapartida do governo, além da implementação das UC é apoiar a recuperação das áreas, o processo de soltura das aves e monitoramento por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemavi/ICMBio).

AS CONTROVÉRSIAS

No caso específico da ararinha-azul, alguns cientistas acreditam que pode ocorrer perda de indivíduos em decorrência de problemas de adaptação – esta será a primeira vez que muitos dos exemplares vão enfrentar o clima tropical.

Outra preocupação é quanto a variabilidade genética. A página do PAN Ararinha-azul não apresenta dados atualizados sobre o estudo genético dos exemplares trazidos para o Brasil. A variabilidade genética entre os indivíduos disponíveis para cópula é essencial para que a reprodução obtenha sucesso.

Há também uma preocupação quanto ao período de quarentena. Animais importados para o Brasil – por compra, empréstimo ou repatriação – deve passar por um período de quarentena no Quarentenário de Cananéia-SP. As ararinhas vindas da Alemanha foram levadas diretamente para o Centro de Reprodução e Reintrodução das Ararinhas-Azuis em Curaçá.

Existem também suspeitas sobre os reais interesses da ACTP. As preocupações estão relacionadas ao seu fundador, Martin Guth, que já foi condenado por sequestro, extorsão e fraude. Há suspeita de que ele planeje usar a associação para vender aves raras. Até o momento não há provas de que isso aconteça.

Segundo Develey, biólogo e doutor em Ecologia pela Universidade de São Paulo, a possível instalação de uma usina eólica na região onde serão soltas as ararinhas, que voam até 50 km para comer e se reproduzir ameaça as aves que ainda precisarão aprender a viver livres. Há grande chance de que ocorram colisões com os geradores ou fios se a usina for construída, prejudicando grandes esforços e recursos investidos na sua reintrodução.

AS EXPLICAÇÕES

O ICMBio afirma que o processo de reintrodução segue um protocolo de biossegurança aprovado pelo governo. O estudo de variabilidade genética das aves que chegaram ao Brasil foi conduzido pelo doutor Cromwell Purchase, pesquisador sul-africano que conseguiu ótimos resultados no aumento do número de aves do plantel da Fazenda Cachoeira (uma propriedade privada que atua em programas de cativeiro do ICMBio).

Sobre a questão de saúde, segundo o ICMBio as aves aqui no Brasil serão novamente testadas e passarão por uma quarentena conforme as exigências do Ministério da Agricultura e Pecuária para garantir que estarão sadias para viverem em vida livre.

Quanto as suspeitas sobre a ACTP, o governo por meio do Ministério do Meio Ambiente afirma que todo processo passou pela avaliação das autoridades brasileiras e alemãs.

EXPECTATIVAS

Recentemente, em 11/06/2022 o ICMBio noticiou em suas redes sociais a soltura do primeiro grupo de ararinhas-azuis, 5 fêmeas e 3 machos. Esse primeiro grupo de oito aves foi escolhido entre os mais aptos a sobreviver na natureza. Apresentam boa saúde, musculatura de voo e não são agressivos entre si. A proposta é soltar mais 12 ararinhas em dezembro de 2022. O restante das aves permanecerá no viveiro como uma reserva para garantir a sobrevivência da espécie, a soltura de novos indivíduos e a reposição das perdas no ambiente. Há motivos para comemoração, porém há que se refletir sobre algumas questões.

As condições que levaram a ararinha-azul a extinção na natureza ainda persistem como o tráfico de animais silvestres, o avanço do agronegócio, e a possível instalação de uma usina eólica no caminho de alimentação das aves.

Ações educacionais para a comunidade na caatinga são essenciais, especialmente quando a miséria está presente e o tráfico passa a ser uma fonte de renda para sobrevivência humana. A aplicação da lei é inócua se não alcançar os grandes traficantes/receptadores, mas apenas punir os que estão na ponta pobre do tráfico. Além dessas questões, o governo federal como pode-se perceber pelos noticiárioss quase diários não valoriza o cuidado com o meio ambiente.

Seria profissional e ético que houvesse mais transparência sobre todo o PAN da ararinha-azul, inclusive informações sobre a proveniência dos recursos oferecidos pela ACTP.

A ararinha azul, assim como o boto cor de rosa, o Lobo Guará e o Mico Leão Dourado são espécies carismáticas, ou seja, causam empatia nas pessoas, o que pode contribuir para que o plano seja bem visto pela comunidade local e pelos entusiastas da conservação. De qualquer forma o foco agora é o retorno das ararinhas sua reintrodução criteriosa em sua terra natal, de onde não deveriam ter saído.

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Referências:

Biodiversidade.https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade#:~:text=O%20Brasil%20ocupa%20quase%20metade,e%20tr%C3%AAs%20grandes%20ecossistemas%20marinhos. Acesso em 02/06/2022
https://awwp-alwabra-com.translate.goog/?_x_tr_sch=http&_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc. Acesso em 18/06/2022.
https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2019/06/06/criadouro-ajuda-na-recuperacao-de-especie-extinta-na-natureza.ghtml acesso em 06/2022.
https://oeco.org.br/reportagens/especialistas-demonstram-preocupacao-sobre-projeto-de-reintroducao-das-ararinhas-azuis/ . Acesso em 18/06/2022.
https://oeco.org.br/reportagens/usina-eolica-no-sertao-baiano-na-rota-de-reintroducao-da-ararinha-azul/ acesso em 25/06/2022.
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/ararinhas-azuis-sao-soltas-na-natureza-20-anos-depois-de-extincao/ acesso em 25/06/2022.

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