Além das aves, o litoral brasileiro também é ocupado pelo ser humano, com intensa atividade recreativa, tráfego, presença de animais domésticos e aumento da urbanização, esse compartilhamento de espaço causa impactos diretos nas aves limícolas, que podem entender o ser humano como um possível predador (Frid & Dill, 2002). Alguns estudos demonstram que a distribuição, abundância e o comportamento das aves sofrem efeitos negativos da recreação, coleta de invertebrados e pesca (Burton et al., 2002; Burger et al., 2004; Finney et al., 2005;).
O principal impacto da presença humana é a restrição aos recursos, pois as aves se afastam de seus locais de alimentação com a aproximação de pessoas e/ou animais domésticos. Em estudo no Chile, Navedo et al. (2019) analisaram os efeitos dos distúrbios humanos na atividade de forrageio da espécie Maçarico-de-bico-virado (Limosa haemastica), comparando uma baía sem distúrbios e outra com distúrbios, e identificaram que mesmo a baixa presença de humanos na praia pode reduzir significativamente a densidade e a atividade de forrageio dessa espécie. Na região onde há atividades antrópicas, as aves perderam cerca de 5% do tempo de forrageio, o que parece ser pouco, mas que pode causar prejuízos aos indivíduos, pois no período pré migração as aves necessitam dobrar a massa corpórea, e assim aumentam a taxa de consumo de alimento, mas com a perda de 5% desse período de engorda, as aves não conseguem atingir o peso ideal e são forçadas a iniciar a migração com poucas reservas energéticas, podendo não conseguir compensar esse dano ao longo do ciclo anual.
A diminuição do tempo de forrageio também pode ser explicada pelo aumento do comportamento de vigilância, as aves interrompem sua alimentação para ficarem atentas à aproximação das pessoas ao redor e, dependendo da distância, fogem para outras áreas (Martín et al., 2014; Navedo et al., 2019). Outro fator que dificulta a alimentação das aves, é o aumento de veículos trafegando pelas praias, além do risco de atropelamento e o distúrbio sonoro, os veículos podem causar a compactação do sedimento e maior penetração dos invertebrados, que são os alimentos das aves limícolas (Neves et al., 2008)
O consumo insuficiente de alimento pode causar problemas severos em níveis individuais, entretanto se as espécies não encontram ambientes propícios à sua sobrevivência para evitar esses danos, em longo prazo os distúrbios de origem antrópica podem fazer com que as aves abandonem uma área permanentemente ou ainda causar a diminuição do tamanho populacional de algumas espécies (Pfister et al., 1992).
Como dito acima, alguns distúrbios podem provocar a diminuição do tamanho populacional de algumas espécies, sendo importante a conservação destas, principalmente as que já apresentam declínio de suas populações, como o Maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus) e o Maçarico-acanelado (Calidris subruficollis), que estão classificados internacionalmente como “quase ameaçados” (Birdlife international, 2021).
conservação da biodiversidade