Tal qual o mito de Platão, as cavernas (Figura 1) como ambientes naturais trazem consigo um enorme misticismo que por vezes amedrontam aqueles que a desconhecem. São ambientes com formações rochosas fascinantes, esculpidas pelas águas de Oxum há milhares de anos, e que hoje servem de abrigo para uma incrível biodiversidade ainda relativamente pouco conhecida. Exuberantes ou singelas, caracterizam-se por serem recursos naturais frágeis, que podem conter registros únicos de alterações arqueológicas, paleontológicas e paleoambientais. Mesmo com suas feições geomorfológicas magníficas e características diferenciadas, são por vezes menosprezadas. Mas de encontro ao que muitos pensam, cavernas são ambientes singulares inseridos em um vasto campo de possibilidades naturais e que possuem extrema importância no meio que a cerca, como será relatado a seguir.

Figura 1. Gruta dos Brejões, Morro do Chapéu – BA. Fonte: arquivo SEA.
Caracterizadas como cavidades naturais subterrâneas onde os seres humanos conseguem se adentrar e que geralmente apresentam algum tipo de ligação com o ambiente externo (por meio de aberturas comunicantes com o ambiente terrestre ou por meio de rios subterrâneos que carreiam nutrientes utilizados pela fauna que ali vive). As cavernas podem ser colonizadas por diversas espécies adaptadas a um ambiente afótico (ausência de luz) e escasso em recursos alimentares. Também têm importância relevante para as condições de vida de diversos animais, principalmente para aqueles viventes exclusivamente nesses ambientes singulares, os chamados trogóblios. Assim, há organismos cavernícolas mais ou menos especializados, utilizando esses ambientes durante todo seu ciclo de vida, ou apenas em parte dele. As espécies que são exclusivas a habitats subterrâneos apresentam especializações comportamentais, morfológicas e fisiológicas que lhes permitem sobreviver e reproduzir exclusivamente no interior de cavernas. A ocorrência de troglóbios são um critério importante para justificar a necessidade de conservação desses ambientes.
Além da ausência permanente de luz, as cavernas apresentam como característica ecológica importante uma estabilidade ambiental elevada, que por sua vez permite a permanência das populações animais que ali vivem. Alguns dos representantes faunísticos que melhor se adaptaram a viver parte de sua vida nas cavernas são os morcegos (Figura 2), que com toda sua peculiaridade, vivem muito bem na escuridão. Os indivíduos desse grupo, bem como algumas espécies de lagartos, anfíbios, serpentes e mamíferos terrestres, encontram nas cavernas um ambiente propício para a realização de atividades como descanso em uma boa rocha, cuidado com seus filhotes, um tempinho com o parceiro, proteção contra certos inimigos naturais e protegidos também da ação de condições climáticas severas. E eis que aqui também se esconde o famoso Conde Drácula, que de aterrorizante não tem nada (precisamos falar sobre isso!).
conservação da biodiversidade