Como tornar mais efetivo o diálogo entre a ciência e a sociedade? Como tornar esse diálogo mais amplo e aumentar sua credibilidade? Em tempos de perda significativa de biodiversidade, mudanças climáticas globais, terraplanismo, coronavírus e distribuição massiva de fake news nas redes sociais, a necessidade de criar e dar escala a informações precisas, verdadeiras e claras mesmo que por meio de narrativas mais carismáticas é premente. O contexto político do país, o desafio da comunicação cientifica e a urgência socioambiental são desafios atuais para cientistas que buscam levar conhecimento cientifico para além da academia.
Em geral, comunica-se melhor em escala local, sendo mais difícil a comunicação em escala regional, nacional e internacional. A discussão política, em momento de polarização exacerbada, apresentou manifestações contrárias ao que cientistas tem advertido nos últimos anos, especialmente no âmbito ambiental. Embora a conjuntura política apresente cenário controverso à sociobiodiversidade, a sociedade brasileira segue em disputa. Os cientistas, difusores de ciência e professores tem a importante missão de se dedicar à construção de estratégias de comunicação que promovam o diálogo entre saberes.
Com o avanço das novas tecnologias, a sociedade passou a se comunicar muito mais por meio das redes sociais. Hoje observa-se uma comunicação com excesso de informação de qualidade duvidosa. Ao mesmo tempo tornou-se difícil utilizar canais tradicionais de comunicação para qualificar a informação sobre os avanços da ciência, seja na esfera ambiental, energética ou de saúde pública.
É preciso construir legitimidade e credibilidade da informação a ser apresentada, associada à elaboração de novas estratégias de comunicação. É necessário utilizar da criatividade para isso. E habilidade de diálogo do saber cientifico com os saberes político, artístico, jurídico-administrativo, econômico e tradicional.
Os cientistas necessitam considerar esse entendimento da conjuntura política e retomar uma agenda de engajamento da sociedade. Fundamental estimular a habilidade de conversar com a linguagem jurídica, a linguagem da legislação e da administração pública. Ao mesmo tempo utilizar da linguagem audiovisual de distribuição rápida nas redes sociais, sem perder critério, mas com capacidade de fazer sentido para uma sociedade composta por enormes parcelas de pessoas que, por diversos e diferentes motivos, não tem domínio da linguagem e do funcionamento da ciência.
A estratégia de comunicação depende principalmente de saber em que momento é importante colocar a informação e de conseguir perceber de onde é melhor que essa informação venha. Essa leitura é desafio posto aos cientistas que se abrem para diálogo com a sociedade. A ciência tem o obstáculo e a missão de comunicar para fora do meio cientifico, o que está longe de ser alcançado plenamente. Não só pela comunicação, mas pelas estratégias, linguagens, formatos e os próprios meios de comunicação escolhidos. Não basta ter a informação, é preciso ter legitimidade e credibilidade frente à sociedade. Como desenvolver essa credibilidade é pergunta fundamental e caminho a se percorrer.
A conjuntura aponta novo cenário, que vai exigir desapego, especialmente quanto à precisão do jargão cientifico. Não é levar informação imprecisa, mas sim construir narrativas factíveis e verdadeiras, que conversem com a população nacional, atualmente bombardeada por discurso que produz imaginário de criminalização e desqualificação do conhecimento cientifico, da cultura, da política, da filosofia e das artes.
Como considerar esse entendimento da situação e retomar uma agenda de diálogo aberto com a sociedade, observando o papel preponderante da ciência na busca por compreensão e proposta de soluções aos diversos problemas atuais? Importante promover diálogo e não disputa entre os conhecimentos.
conservação da biodiversidade