Por: Débora Rother Postado dia 02/11/2020Departamento de Ecologia, USP - SP
Pesquisadora Colaboradora - ESALQ - USP - Piracicaba - SP
Precisamos ter a clareza de que quando perdemos áreas na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal, nos Pampas, na Mata Atlântica ou em outro tipo de vegetação do Brasil e do mundo, perdemos milhares de espécies e de interações que essas espécies estabelecem entre si. Perdemos também milhares de anos que os organismos levaram para coevoluir e coexistir naquele ecossistema.
Além do valor intrínseco das espécies de plantas e animais, preservar áreas nativas tem um valor incontestável para nossa sobrevivência pois somos parte integrante do meio ambiente. Dependemos dessas vegetações para termos água para consumo e para a agropecuária, controle de pragas, polinização das culturas agrícolas, manutenção dos ritmos de chuva, sequestro de carbono da atmosfera, controle da erosão, entre outros serviços que são os chamados serviços ecossistêmicos.
Outro exemplo de que somos fortemente afetados pela degradação que causamos foi divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Dados recentes mostram que cerca de 20% da superfície terrestre apresenta declínio na produtividade agrícola e esse declínio está ligado à erosão, ao esgotamento e à poluição do solo e da água. A estimativa é de que até 2050 a degradação dos ecossistemas e as mudanças climáticas poderão reduzir o rendimento agrícola em 10% em nível mundial e até 50% em regiões que já exibem maior degradação e mudanças intensas do clima.
Além das perdas econômicas e da insegurança alimentar, a perda de áreas de vegetação traz consigo a quebra das interações entre as espécies - apontada como um ponto chave para o surgimento de zoonoses. É fato que o cenário que vivenciamos com a pandemia do COVID-19 está estreitamente relacionado a essa relação tóxica que infelizmente estabelecemos com a natureza.
Podemos então observar uma necessidade crescente e urgente de proteção da vegetação original que ainda resiste às perturbações e de restauração das áreas degradadas – com vistas à conservação da diversidade biológica e à manutenção dos serviços ecossistêmicos que são, indiscutivelmente, fundamentais para a vida e o bem estar humano.
Para as áreas degradadas temos uma nova esperança! Foi declarada pela Assembleia Geral da ONU a Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030). Antes de qualquer coisa é preciso entendermos o que é a restauração de ecossistemas. Segundo a definição da Sociedade Internacional para Restauração Ecológica (SER), a restauração é o processo de assistir à recuperação de um ecossistema que foi degradado, perturbado ou destruído. Essa recuperação pode ser realizada de diferentes formas dependendo da situação e as ações de restauração podem variar desde o estímulo à regeneração natural até ações ativas que utilizam sementes ou plantio de mudas de espécies nativas locais. O ecossistema restaurado não irá necessariamente atingir o seu estado original, considerando as características locais e de paisagem atuais que podem limitar a sua recuperação.
E o que a Década da Restauração de Ecossistemas significa? Esse é um apelo global para impulsionar e ampliar as iniciativas para restaurar milhões de hectares de terras degradadas ao redor do mundo. Essa estratégia - que inclui os objetivos e as responsabilidades das organizações envolvidas, monitoramento das áreas restauradas e meios de financiamento de ações de restauração em larga escala - necessitará certamente de apoio político e pesquisa científica. A coordenação da Década será realizada por duas agências da ONU – o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
conservação da biodiversidade