Postado dia 21/07/2021
Cientista Ambiental pela Universidade Federal do Ceará e Doutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo. Atua na área de Ecotoxicologia, com ênfase nos efeitos tóxicos de agrotóxicos na comunidade aquática. As mudanças impulsionadas pelo homem no Sistema Terrestre sugerem que deixamos o Holoceno e entramos em uma nova época, o Antropoceno, marcada por mudanças rápidas e de grande escala nos sistemas ecológicos, a nível global. A grande explosão das atividades humanas e sua clara influência sobre a estrutura e funcionamento do Sistema Terrestre, a partir da década de 1950, tem sido proposta como o período que marca o início do Antropoceno. O Antropoceno tem sido sinônimo de um mundo baseado em substâncias químicas sintéticas, com fabricação e introdução comercial desses produtos em todas as esferas das atividades humanas, e não é surpresa salientar que muitas dessas substâncias venham se tornando contaminantes ambientais nas últimas décadas. Não é um consenso entre os cientistas qual contaminante melhor caracteriza o Antropoceno, no entanto, é indiscutível que os agrotóxicos figuram entre os protagonistas desta era.
A agricultura convencional, tal qual é conduzida desde o advento da Revolução Verde, pressupõe a simplificação dos ecossistemas, a partir da substituição de sistemas complexos e estáveis, como as florestas, por sistemas simplificados e instáveis, como as monoculturas. Adilson Paschoal, em seu livro “Pragas, agrotóxicos e a crise ambiente”, relata que a redução da diversidade nos sistemas agrícolas favorece a reprodução e a sobrevivência de espécies herbívoras com ausência de competidores e inimigos naturais, conduzindo estas espécies, antes inofensivas, a categoria de pragas. Uma vez estabelecidas, as pragas são eliminadas a partir da aplicação de agrotóxicos, que reduzem ainda mais a complexidade e a estabilidade dos sistemas e propiciam novos surgimentos de pragas, com maior intensidade, fazendo deste processo um ciclo vicioso que empobrece o solo e diminui a biodiversidade.
É sabido que a utilização de agrotóxicos no mundo surgiu após a descoberta das propriedades inseticidas do DDT, o primeiro organossintético, utilizado na segunda guerra mundial para eliminar insetos e combater doenças, como a malária. A partir disso, mudanças bruscas na metodologia do controle de pragas foram estabelecidas. Na década de 60, com o advento da Revolução Verde, a modernização dos processos produtivos foi estimulada por um “pacote tecnológico” que incluía: a mecanização da produção agrícola, a modificação genética de sementes e o uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos. Desde então, o uso de agrotóxicos passou a constituir uma das características do padrão tecnológico da produção agrícola, até os dias atuais.
A agricultura convencional, tal qual é conduzida desde o advento da Revolução Verde, pressupõe a simplificação dos ecossistemas, a partir da substituição de sistemas complexos e estáveis, como as florestas, por sistemas simplificados e instáveis, como as monoculturas. Adilson Paschoal, em seu livro “Pragas, agrotóxicos e a crise ambiente”, relata que a redução da diversidade nos sistemas agrícolas favorece a reprodução e a sobrevivência de espécies herbívoras com ausência de competidores e inimigos naturais, conduzindo estas espécies, antes inofensivas, a categoria de pragas. Uma vez estabelecidas, as pragas são eliminadas a partir da aplicação de agrotóxicos, que reduzem ainda mais a complexidade e a estabilidade dos sistemas e propiciam novos surgimentos de pragas, com maior intensidade, fazendo deste processo um ciclo vicioso que empobrece o solo e diminui a biodiversidade.
Estima-se que somente 0,1% dos agrotóxicos aplicados às culturas em todo o mundo atinjam seus alvos específicos, deixando grandes quantidades de resíduos tóxicos livres para se deslocarem entre os diferentes compartimentos ambientais, contaminando solos, água e ar e afetando, assim, organismos não-alvo de modo negativo. Diversas pesquisas ao redor do mundo têm relatado os efeitos tóxicos em organismos que não são o alvo dessas substâncias, como a comunidade fito e zooplanctônica, peixes, aves e organismos do solo. Essas substâncias podem modificar funções em diferentes níveis de organização biológica, que vão desde alterações no material genético até alterações a níveis de ecossistema (Figura 1). Além de efeitos letais (que causam a morte dos organismos), há registros de alterações fisiológicas, reprodutivas, hormonais e comportamentais; ou seja, muitas vezes os tóxicos podem não causar a morte dos organismos, mas irão afetar o número de descendentes, conduzir a deformidades e a outros aspectos que contribuem para eliminação das funções ecológicas e dos serviços ecossistêmicos que esses organismos desempenham no meio ambiente.
conservação da biodiversidade