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A importância de dados ecológicos para conservação da biodiversidade
Por: Anna Resende                                                  Postado dia 13/05/2021Bióloga, Mestre em Ecologia e Conservação, UFPR









Os ecólogos frequentemente coletam dados sobre composições em espécies de comunidades naturais e variáveis ambientais em inúmeros locais e ainda registram o local e data de cada amostra coletada. Você já parou para pensar sobre qual seria a relevância desse trabalho para a conservação da biodiversidade?

Os sistemas ecológicos são extremamente complexos, e uma variada gama de processos podem afetar os organismos, populações, comunidades e ecossistemas. Essa coleta de dados de espécie, população, comunidade ou até mesmo ecossistema, e frequentemente, a análise em conjunto de variáveis ambientais ou temporais são o que formam os dados ecológicos. Eles servem para o monitoramento e avaliação de condição de determinado organismo ou das demais categorias no ambiente que estão inserido ou ao longo de determinado período (Fig. 1).
Exemplo de imagem
Figura 1. Esquema demonstrando diferentes associações que podem ser feitas em estudos ecológicos. Fonte: a autora.


Nesse contexto, surge a pesquisa com enfoque na conservação da biodiversidade. A biodiversidade nada mais é que a variedade de genes, espécies e ecossistemas que constituem a terra, ou seja, a diversidade biológica (Fig. 2). A biodiversidade é importante por vários fatores, mas os principais são para o funcionamento de ecossistemas, pois fornecem oxigênio, ar limpo e água, polinização de plantas, controle de pragas, tratamento de esgoto e inúmeros outros serviços ecossistêmicos.

A conservação da biodiversidade, portanto, é de extrema importância para nós seres humanos, além do fato de proteger plantas, animais, micróbios pelo seu valor intrínseco e o simples direito de existir. Desse modo, para entender como empregar os métodos de conservação da biodiversidade, é necessário entender os determinantes da biodiversidade.
Para isso, é necessário coletar dados ao longo de períodos de tempo, e em uma ampla escala espacial (Doak et al. 1992). Além disso, como fatores ambientais (de origem humana ou não) podem afetar a distribuição de indivíduos e consequentemente a diversidade biológica de cada local, os processos tipicamente usados pelos ecologistas para entender padrões na biodiversidade a partir de dados ecológicos são de extrema importância (Kelling et al., 2009).

Enquanto há desafios inerentes em organizar e analisar um número grande de dados, fazer isso é essencial para desvendar a complexidade dos sistemas ecológicos, para entender os efeitos profundos que os humanos têm no sistema natural da Terra, e desenvolver políticas ambientais baseadas nas evidências científicas. Os dados ecológicos, após serem analisados pelos cientistas, fornecem um conhecimento para o público geral e pessoas com poder decisivo possam entender melhor os sistemas e processos ecológicos (Kelling et al., 2009).

As ações humanas têm causado uma crise na biodiversidade, com altas taxas de extinção de espécies, além de afetar diretamente os serviços ecossistêmicos dos quais os humanos dependem (Brooks et al., 2006) (Fig. 3). As pessoas se importam mais com o que está próximo delas, portanto métodos efetivos de conservação tendem a ser regionais ou nacionais. Logo, ações de conservação têm sido realizadas diretamente através de informações regionais de mudanças de biodiversidade, vide a tamanha importância de pesquisas nesta área na efetividade de políticas de conservação (Proença et al. 2017).
Imagem Bocaina

Figura 2: Desenho esquemático dos diferentes níveis da biodiversidade. Fonte: página do Facebook chamada “Árvore, ser tecnológico”. 

Esperançosamente, os paradigmas de conservação, práticas e políticas têm se alterado ao longo do tempo e têm demonstrado sucesso (Adams, 2004). Nas décadas recentes, métodos tradicionais de conservação – como a criação de parques nacionais – evoluíram para criar uma grande consciência do benefício da biodiversidade em áreas protegidas, a importância de conservações locais e grande interesse de proteção destas áreas. Ações focadas em manejo de habitats, remoção de espécies invasivas e reintrodução de espécies nativas tem obtido tremendo sucesso para manter a biodiversidade de diversos locais no mundo (Rands et al., 2010).

Por fim, novas técnicas de pesquisa para análises de dados biológicos voltados para a biodiversidade de diferentes locais têm sido criadas constantemente, assim gerando mais conhecimento sobre várias espécies e corroborando com a melhoria das técnicas de conservação adotadas no mundo todo.
Imagem Bocaina

Figura 3: Esquema exemplificando algumas ações humanas que corroboram com a perda da biodiversidade. Fonte: a autora.

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Referências

Adams, W.M., 2004. Against extinction: the story of conservation. Earthscan, London ; Sterling, VA.
Brooks, T.M., Mittermeier, R.A., Fonseca, G.A.B. da, Gerlach, J., Hoffmann, M., Lamoreux, J.F., Mittermeier, C.G., Pilgrim, J.D., Rodrigues, A.S.L., 2006. Global Biodiversity Conservation Priorities. Science 313, 58–61. https://doi.org/10.1126/science.1127609
Doak D, Marino P, Karieva P. 1992. Spatial scale mediates the influence of habitat fragmentation on dispersal success: Implications for conservation. Theoretical Population Biology 41: 21.
Kelling, S., Hochachka, W.M., Fink, D., Riedewald, M., Caruana, R., Ballard, G., Hooker, G., 2009. Data-intensive Science: A New Paradigm for Biodiversity Studies. BioScience 59, 613–620. https://doi.org/10.1525/bio.2009.59.7.12
Millennium Ecosystem Assessment (Program) (Ed.), 2005. Ecosystems and human well-being: synthesis. Island Press, Washington, DC.
Proença, V., Martin, L.J., Pereira, H.M., Fernandez, M., McRae, L., Belnap, J., Böhm, M., Brummitt, N., García-Moreno, J., Gregory, R.D., Honrado, J.P., Jürgens, N., Opige, M., Schmeller, D.S., Tiago, P., van Swaay, C.A.M., 2017. Global biodiversity monitoring: From data sources to Essential Biodiversity Variables. Biological Conservation 213, 256–263. https://doi.org/10.1016/j.biocon.2016.07.014
Rands, M.R.W., Adams, W.M., Bennun, L., Butchart, S.H.M., Clements, A., Coomes, D., Entwistle, A., Hodge, I., Kapos, V., Scharlemann, J.P.W., Sutherland, W.J., Vira, B., 2010a. Biodiversity Conservation: Challenges Beyond 2010. Science 329, 1298–1303. https://doi.org/10.1126/science.1189138
Rands, M.R.W., Adams, W.M., Bennun, L., Butchart, S.H.M., Clements, A., Coomes, D., Entwistle, A., Hodge, I., Kapos, V., Scharlemann, J.P.W., Sutherland, W.J., Vira, B., 2010b. Biodiversity conservation: challenges beyond 2010. Science 329, 1298–1303. https://doi.org/10.1126/science.1189138