Mas o que é o processo de dispersão de sementes? Denomina-se de dispersão o movimento, propagação ou transporte de sementes para longe da planta-mãe. Esse processo é fundamental pois as plantas dependem de diversos agentes para transportar suas sementes ou propágulos (isto é, uma unidade de dispersão, que inclui a semente com outras estruturas) incluindo o vento, a água e os animais. Em florestas tropicais, como é o caso da nossa Mata Atlântica e da floresta Amazônica, entre 80 e 90% das sementes existentes são dispersas por animais. Exatamente, a ampla maioria! Estamos falando de insetos, como formigas e besouros, de mamíferos como os macacos, pequenos roedores e morcegos, além de muitas espécies de aves. Pois é, diversos são os animais responsáveis por espalhar as sementes em uma floresta, passo inicial para garantir o sucesso de estabelecimento em um determinado ambiente (outros fatores como luz, umidade e nutrientes vão ser decisivos no estabelecimento, mas a chegada é o primeiro passo!). E esse transporte para longe da planta-mãe é essencial para viabilizar este sucesso, visto que haverá menor competição e maior chance de estabelecimento dessa sementinha se tornar uma futura árvore.
Algumas sementes são dispersas por apenas um grupo limitado de espécies de animais, e em consequência, o desaparecimento deles no ambiente compromete o processo de dispersão daquela(s) espécie(s) de planta(s), podendo levar a longo prazo à extinção também da espécie de planta. Por exemplo, a castanha-da-amazônia (também conhecida como castanha-do-pará, Bertholletia excelsa) tem suas sementes dispersas pela cutia, um roedor de médio porte que como o próprio nome diz, gosta de roer uma semente. O fruto da castanheira (também conhecido como ouriço) é composto de diversas sementes, as nossas conhecidas (e saborosas) castanhas. A cutia é um roedor voraz, que consegue quebrar este pesado fruto (750 g, armazena entre 10 e 25 sementes, e não se abre espontaneamente) e transportar diversas sementes para longe da planta-mãe (ver Figura 1). Nesse processo, já foi documentado que a cutia consegue carregar estas sementes por até 1 km de distância! Acontece que a cutia é um animal guloso e esquecido: ela transporta várias sementes e as enterra para consumir posteriormente, porém ela se esquece do local que as enterrou. Isso permite que aquela sementinha esquecida possa ser germinada, e vire uma plantinha, e então possa se tornar um indivíduo adulto e produzir mais frutos. Agora imagine o que seria de uma floresta na Amazônia sem a cutia? Alguns macacos, como o macaco-prego, também são capazes de quebrar o fruto – porém muitos especialistas afirmam que o ouriço precisa estar mais velho (menos duro) para que eles consigam parti-lo. De toda forma, existe uma forte relação de interdependência entre a castanheira e mamíferos, assim como existem uma infinidade de exemplos com outras plantas e animais, com benefício mútuo para os dois grupos. A planta precisa do animal para ser dispersa e o animal precisa do fruto (ou semente) como alimento. E a floresta precisa desta intrínseca interação animal-planta para se manter em equilíbrio dinâmico e poder continuar se regenerando naturalmente. Todos saem ganhando ̶ plantas, animais e inclusive nós humanos, que dependemos diretamente dos alimentos e outros serviços ecossistêmicos vindos da floresta.
conservação da biodiversidade