A urbanização e o desmatamento desenfreado resultam em mudanças drásticas nos ambientes afetados. Ao tirarmos a vegetação de uma área, acabamos seccionando um contínuo maior, certo? Como se tirássemos um pedaço de uma torta e aquele buraco distanciasse os dois pedaços adjacentes ou, em casos piores, como se tirássemos uma fileira do meio da torta, separando a torta em dois “pedações”. Isso implica em uma série de fatores como, no caso da torta, as laterais expostas vão esfriar mais rapidamente, se você colocar na geladeira essas laterais expostas vão ressecar e endurecer mais facilmente do que o centro dos pedaços, moscas vão pousar nas laterais e suas larvas vão atingir essas partes em menos tempo do que o meio do pedaço etc.. No caso do desmatamento e da urbanização isso acontece de maneira mais grave, pois construímos cidades de quilômetros quadrados de extensão, deixamos um parque ou outro rodeados por ruas e prédios, separamos ambientes mais naturais por uma cidade de distância. Pensando nisso, será discorrido um pouco sobre um grave problema acarretado por essas características: o Efeito de Borda.
Quando saímos de um ambiente aberto e entramos em uma floresta, costumamos notar algumas diferenças, como a queda da temperatura, menor luminosidade, sentimos menor corrente de ar quanto mais nos adentramos, até a vegetação costuma ser diferente. Essas e outras características podem ser alteradas pelo que chamamos de Efeito de Borda. Este processo nada mais é que um gradiente de mudanças causadas pela proximidade à borda de um fragmento de mata (borda mesmo, limites do fragmento) e submissão às condições ali presentes.
Uma alteração que afeta muito a borda é a maior entrada de luz solar e consequente maior temperatura, pois, isso cria condições que favorecem certas plantas e desfavorecem outras. Isto é, há plantas que se desenvolvem melhor em altas temperaturas e outras em baixas, plantas que se dão melhor sob luz direta do sol e outras em sombras. Isso cria padrões de vegetações em distâncias diferentes da borda, onde mais no interior estão plantas altas que captam muita luz solar e plantas menores que preferem a sombra das grandes e mais externamente as plantas que aguentam maiores temperaturas e mais luz do sol.
Outro padrão que pode ser visto é a diminuição da intensidade do vento, ou seja, quanto mais árvores há, mais obstáculos o vento encontra ao passar por um lugar, então mais devagar ele fica. Sendo assim, é comum que tenham ventos mais brandos no interior de fragmentos de floresta em relação aos que chegam nas bordas, por causa disso, algumas árvores maiores podem cair onde mais venta, por serem empurradas com muita força, fazendo com que na parte menos central também não haja árvores tão altas.
Bom, já entendemos que o efeito de borda faz muitas coisas mudarem, mas o que é que tem haver mudança? Não é normal mudar? O efeito de borda já não existe naturalmente? Pois a explicação vem a galope!
O problema é que, como humanos, estamos criando bordas demais, alterando lugares demais, mudando natureza demais e, assim como naturalmente existe Efeito Estufa, também existe efeito de borda, mas a intensidade e a quantidade que fazem esses serem grandes problemas. Muitas vezes o efeito de borda modifica tanto um local que ocorre uma simplificação da vida naquele lugar, poucos organismos e grupos de organismos começam a tomar conta e fixarem nele. Com isso, se perde diversidade de espécies, por exemplo, e o local fica mais pobre e mais suscetível a perturbações, podendo ser perdido por completo após um leve distúrbio, como um incêndio. Em outras situações, há uma maior riqueza de espécies, porém, deve-se lembrar que várias dessas espécies não ocorreriam ali se não tivéssemos gerado um distúrbio no local e não sabemos o que a presença de certas espécies em certos lugares pode fazer com a vida já presente naquele local.
conservação da biodiversidade