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Autores do Blog Ciência em Ação

Por: Augusto Gomes
Postado dia 23/04/2022

Biólogo, mestre em Ecologia e Conservação, fotógrafo e filmmaker - contador de histórias naturais. A trajetória de Augusto com a conservação começou no início de sua vida acadêmica, na qual passou 10 anos se dedicando majoritariamente a montanhas, cavernas e morcegos. Após um tempo na área da consultoria, descobriu sua paixão por documentar a vida selvagem e, desde então, se dedica a fotografia. 















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Cresci com uma câmera na mão e um pé na estrada. Talvez por influência do meu pai, que desde sempre perambulava com sua velha Zenit dependurada no pescoço por onde íamos. Muito cedo, aprendi a ver o mundo através das lentes, a contemplar a natureza e observar a luz mudar. Aprendi a escutar os sons do Cerrado e a dar valor para os pequenos (mas não menos importantes) animais que me circundavam.

O contato pré-maturo com a natureza sempre me proporcionou grandes momentos, vivências únicas e memórias inesquecíveis. A curiosidade pela fotografia surgiu muito cedo como uma maneira de tentar eternizar alguns desses momentos fugazes da infância. Inicialmente, brincando com aquela antiga analógica russa de meu pai, e depois com minhas próprias câmeras que ganhara de presente. Algumas muito simples, compactas do tipo “aponte e dispare”, outras um pouco mais complexas, já na era digital e com opções de controle manual. O fato é que carreguei esse interesse por muitos anos até ingressar na faculdade de biologia. Ali eu consolidei minha paixão inexorável pelo mundo natural e descobri outros mundos que nem imaginava serem possíveis. E foi nas incontáveis expedições de campo que comecei também a desenvolver um outro olhar para a fotografia.

Imagem da Bocaina - Blog Ciência em Ação

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Até então, meu interesse era muito particular, no sentido de conseguir capturar um flagra de um animal ou de uma planta em estado selvagem, que me servisse de memória posterior. Fotografava sem muita técnica e conhecimento, simplesmente para alimentar meu acervo pessoal e pelo gosto de ter uma imagem bonita para chamar de “minha”. Aos poucos, esse interesse superficial começou a se transformar em uma quase obsessão por transportar até as pessoas um pouco da realidade que eu vivia em minhas andanças. Eu querida que elas pudessem sentir a mesma magia, o mesmo encantamento que eu sentia ao pisar em um lugar intocado. Queria que elas se sentissem cara a cara com os animais que eu via durante meus trabalhos de campo, ou que sentissem o suave perfume das flores dos campos rupestres pelos quais eu passava. Nesse ponto, eu entendi que o método da tentativa e erro com as câmeras não bastava mais. Deveria existir alguma explicação racional para os números confusos no display da câmera, que variavam conforme a luz, deixavam minhas imagens borradas ou congeladas, nítidas ou fora de foco. E foi nessa época que eu caí de cabeça na fotografia e comecei a estudar de verdade.

Felizmente, a recompensa veio cedo. Com um pouco de dedicação, consegui dominar o modo manual da câmera. Aprendi a trabalhar a velocidade, abertura, ISO, balanço de branco, foco e outros recursos conforme minhas necessidades. Eureka! Parecia ter descoberto a roda. De repente, minhas imagens saltaram para outro patamar e um mundo de novas possibilidades (e desafios!) se abriu. Com o bom domínio da câmera, a imaginação era o limite. Isso obviamente agregou mais interesse para minhas imagens, e facilitou com que eu conseguisse transmitir aquela “magia do momento” para as pessoas que não tinham contato com a natureza. Finalmente, eu sentia que estava conseguindo transportar realidades e contaminando outras pessoas com meu encantamento pela vida selvagem e pelos cantos preservados do mundo. Embora não soubesse disso na época, eu estava plantando as sementes da fotografia da conservação e da divulgação científica para meus projetos futuros.

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Na medida em que amadurecia meu olhar, tive contato com grandes nomes da fotografia de natureza que vieram a se tornar meus mentores alguns anos mais tarde: João Marcos Rosa, João Paulo Krajewski, Cristian Dimitrius, dentre outros. Eles me mostraram que um punhado de imagens isoladas poderiam ser bonitas e trazer alguns likes, mas não tinham a mesma força que uma sequência de imagens que se conectassem. Acho que esse foi um dos maiores aprendizados que já tive na minha carreira de fotógrafo e documentarista: eu entendi que, para transpor realidades, eu também precisava contar histórias com minhas imagens. Isso significa pensar num roteiro, nos personagens, no enredo, nos conflitos e na conclusão da minha história – e quais equipamentos e técnicas seriam necessários para concluir todas essas etapas. Contar histórias tem um valor não só para a divulgação científica, mas também para a ciência básica e para nossa comunicação cotidiana. Quando escrevemos um artigo científico, estamos contando a história de uma descoberta. E as imagens são aliados poderosos para reunir uma série de informações que seriam muito mais difíceis de exprimir de outra forma. Quando contamos um caso para alguém ou fazemos um post sobre uma viagem nas redes sociais, também estamos contando histórias. Quando assistimos a um jornal ou a um filme na TV, estamos assistindo histórias.

Não que seja um processo simples. Nunca é. Contar histórias depende de uma boa dose de imaginação e planejamento, de uma visão holística, da capacidade de enxergar uma mesma narrativa sob óticas diferentes e, o mais importante, de uma conexão pessoal com aquele tema. No meu caso, isso eu já tinha. A paixão pelo mundo natural sempre foi minha maior motivação de vida. O que me faltava era conseguir organizar minhas ideias, minhas inúmeras vivências de campo e um acervo de dezenas de milhares de imagens, em uma narrativa que fizesse sentido para outras pessoas também.

Minhas primeiras histórias começaram então a sair do papel: as “Vidas Rupestres” da Cordilheira do Espinhaço, as mariposas beija-flor dos campos rupestres, as mudanças climáticas nas montanhas tropicais, os últimos refúgios do Cerrado brasileiro... Todas elas, histórias que já estavam ali, debaixo do meu nariz, mas eu ainda não as enxergara como tal. Ainda não as tinha imaginado como narrativas potenciais, mas simplesmente como fatos ou pesquisas interessantes em andamento. Esse foi, e ainda é, o processo mais difícil, laborioso e complexo do meu trabalho. Mas também um dos mais importantes. Uma narrativa mal construída pode arruinar imagens esteticamente impecáveis, assim como uma narrativa bem construída pode ser tão forte a ponto de convencer um grupo de políticos a baixar uma lei para proteger uma área ou uma espécie, por exemplo. A própria história da fotografia da conservação está intimamente relacionada às narrativas propagadas pelos seus precursores. O primeiro Parque Nacional do mundo, Yellowstone, nos Estados Unidos, foi criado graças, em grande parte, ao trabalho incansável do fotógrafo William Henry Jackson e do pintor Thomas Moran. Aliás, boa parte das áreas protegidas e dos movimentos conservacionistas no oeste americano se devem ao ativismo de fotógrafos, artistas e escritores como Ansel Adams e John Muir. Mais recentemente, a expansão das áreas protegidas em Galápagos e no Pacífico Tropical do Leste só foi possível pela atuação de organizações como a Sea Legacy, a Only One e a International League of Conservation Photographers, todas elas amplamente pautadas no uso da imagem como ferramenta de luta e mobilização social e ambiental. A criação do Florida Wildlife Corridor, um imenso corredor ecológico interligando áreas protegidas públicas e particulares, é uma conquista encabeçada pelo grande fotógrafo Carlton Ward Jr. e pela National Geographic. A proteção legal da abelha Bombus affinis só ocorreu pelos esforços do fotógrafo Clay Bolt. A história da conservação no mundo está recheada de exemplos de homens e mulheres que se valeram do poder das narrativas visuais para propagar mensagens e transformar realidades.

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Estas histórias se tornaram minha maior fonte de inspiração na fotografia, minha maior motivação em continuar clicando e filmando. Muito mais do que mil palavras, uma imagem pode significar a mudança na percepção da sociedade sobre um tema, a proteção de um ecossistema ameaçado ou o catalisador um movimento global contra o desmatamento ou contra as mudanças climáticas, por exemplo. Tudo vai depender de como aquelas imagens serão utilizadas depois que são produzidas. Elas ficarão guardadas em um HD? Enfeitarão uma galeria de arte? Angariarão curtidas nas redes sociais? Ou chegarão nos tomadores de decisão e nas pessoas que realmente precisam vê-las para que tenham algum efeito palpável? Contar histórias é sempre uma grande responsabilidade, e fazer com que elas cheguem nas pessoas certas é o papel do fotógrafo da conservação.

Espero que esse breve relato possa te inspirar na sua jornada pela fotografia de natureza, a contar suas próprias histórias e fazer a diferença naquilo que acredita.

Foto rosto Augusto Gomes
Augusto Gomes
Biólogo, fotógrafo e filmmaker - contador de histórias naturais. A trajetória de Augusto com a conservação começou no início de sua vida acadêmica, na qual passou 10 anos se dedicando majoritariamente a montanhas, cavernas e morcegos. Após um tempo na área da consultoria, descobriu sua paixão por documentar a vida selvagem e, desde então, se dedica a fotografia. Atualmente, é colaborador da National Geographic, bioGraphic Magazine e BBC Studios, além de contribuir para diversas ONGs e sites de conservação.


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