Assim, as espécies que migram do hemisfério norte, após a reprodução se direcionam para as porções mais quentes do planeta, ou seja, locais de maiores latitudes, como as áreas úmidas do interior e litoral do Brasil. A migração geralmente se inicia no final do verão local, já que com a aproximação do outono e rigoroso inverno os recursos tendem a ser mais escassos. O ciclo de migração costuma ser anual, sendo que as espécies geralmente chegam em seus sítios reprodutivos no início da primavera local.
O processo de migração requer uma série de adaptações fisiológicas: alguns maçaricos voam centenas de quilômetros, às vezes dias seguidos sem pousar para se alimentar ou descansar. Há um caso confirmado de um bando de maçarico chamado fuselo que voou 12.000 km sem parar direto do Alasca até a Nova Zelândia!
Ao migrar podem se orientar por estrelas, montanhas, assim como as pessoas utilizam determinadas construções como ponto de referência. Além disso, possuem células especializas no cérebro que atuam como verdadeiras bússolas.
Por enfrentarem condições tão adversas, a migração requer uma série de adaptações. Os maçaricos tentam consumir a maior quantidade de alimento possível ao iniciar o processo de migração e também em seus pontos de parada, apresentando uma das maiores taxas metabólicas conhecidas. Além disso, acumulam um estoque energético através de uma reserva de gordura. Outra adaptação é a alteração da plumagem para maior camuflagem, reduzindo as chances de predação durante o deslocamento. Assim, há plumagens reprodutivas e outras não reprodutivas, chamadas de plumagem de descanso. Desse modo, muitas espécies que são mais coloridas ou contrastadas, tendem a chegar com tons cinza e ou opacos no litoral brasileiro. Porém, indivíduos com plumagens intermediárias são frequentemente observados, seja ao chegar ou retornar para reprodução.
A migração é realizada em bandos e em locais que há maior oferta de alimento, são vistos em maiores aglomerações, muitas vezes com diversas espécies. Tais locais muitas vezes podem abrigar milhares de indivíduos, como é o caso do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul e da Coroa do Avião, em Pernambuco. Alimentam-se de pequenos invertebrados, como vermes, moluscos e crustáceos.
No Brasil, os maçaricos utilizam as praias, manguezais, margens de rios, estuários e áreas úmidas em geral. Seus ambientes muitas vezes conflitam com áreas de uso antrópico, o que ameaça as espécies. Por isso, foi criado anteriormente um Plano de Ação Nacional de Conservação (PAN) das aves migratórias limícolas, o qual almejava assegurar a proteção efetiva dos habitats críticos para essas aves. Tal proteção visa áreas úmidas como a foz de rios e praias que há concentração de indivíduos, e apresenta medidas como controle e impedimento da presença de cães e gatos em praias de relevância para as espécies, fiscalização da poluição de corpos hídricos e deposição inadequada de esgoto e efluentes químicos, além da promoção da educação ambiental, redução da caça, e gestão do turismo. Há ainda ameaças como a expansão urbana com empreendimentos imobiliários, pois tais locais muitas vezes apresentam alto potencial para exploração turística.
Para observar tais aves é necessário verificar a melhor época que as espécies frequentam a região, já que são visitantes sazonais (geralmente de outubro a fevereiro para espécies do hemisfério norte e maio a agosto para migrantes do sul) e também encontrar seus ambientes. Espécies litorâneas costumam ser mais frequentes na maré baixa, onde há maior oferta de alimento e de área de forrageio. Assim também é para espécies de interior, quando há redução do nível da água e há formação. Contudo, mesmo nesses ambientes, pode haver maior especificidade de habitat para cada espécie. O maçarico-branco (Calidris alba) forrageia no retorno da maré, enquanto outros maçaricos são mais comuns no encontro do rio com o mar. Já o maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus) e o maçarico-de-asa-branca (Tringa semipalmata), geralmente são encontrados próximo ao mangue. A batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia) utiliza dunas de areia. Existem também espécies mais campestres, como o maçarico-do-campo (Bartramia longicauda) e o maçarico-acanelado (Calidris subruficollis).
A identificação dos maçaricos, no entanto, nem sempre é fácil, já que a plumagem não é o método mais seguro na maioria dos casos, embora algumas espécies possuem manchas características, como o branco visível do dorso do maçarico-de-sobre-branco (Calidris fuscicollis), quando voa, ou a mancha preta embaixo da asa da batuíra-de-axila-preta (Pluvialis squatarola). Assim, deve-se observar a coloração de patas e bico, além das proporções desses e da asa, cauda e tamanho do corpo. Os maçaricos também apresentam modos intrínsecos de forragear e de caminhar e isso pode ser uma ferramenta muito útil para identificação. O maçarico-pintado (Actitis macularius), por exemplo, abaixa e levanta a parte traseira do corpo ao andar, criando um movimento característico. Além disso, como já dito, o ambiente pode ser também uma ferramenta para indicar a espécie.
conservação da biodiversidade