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Autores do Blog Ciência em Ação

Por: João Victor Ferrari da Silva
Postado dia 16/07/2022

Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA (2022). Realizou Iniciação Científica no Laboratório de Pesquisas em Interações Ecológicas (LaPIEco) (2019-2022) e foi bolsista do Programa de Educação Tutorial do Ministério da Educação (PET/MEC) durante o mesmo período. Atualmente é Trainee no Programa de Treinamento em Monitoramento de Avifauna do Observatório de Aves da Mantiqueira (OAMa). Possui experiência em ecologia das interações e levantamentos de avifauna.















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Mais populares no hemisfério norte e ainda recentes no Brasil, os Observatórios de Aves - diferente do que o próprio nome pode sugerir - não são apenas áreas específicas em que birdwatchers e amantes da natureza se reúnem para fotografar e admirar as aves. As funções desempenhadas nesses centros vão muito além… Situados em locais estratégicos, como áreas de endemismo ou rotas migratórias, o pilar principal dessas instituições baseia-se na pesquisa científica e monitoramento de longo prazo da avifauna visando preencher lacunas existentes no campo da ornitologia (Figura 1). As ações dos Observatórios de Aves, entretanto, não se limitam ao campo acadêmico e científico. O conhecimento científico é transmitido à sociedade, buscando sensibilizar e engajar as pessoas em ações de conservação da natureza.

Imagem da Bocaina - Blog Ciência em Ação

Figura 1: Tangará (Chiroxiphia caudata) capturado e marcado com anilha CEMAVE na Estação de Pesquisa do OAMa. Acervo: OAMa.

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Os primeiros Observatórios de Aves, localizados na Europa, tinham como foco o estudo dos padrões de migração das aves. Com o tempo e a expansão de Observatórios de Aves pelo mundo, os estudos se tornaram mais abrangentes, e com um forte direcionamento para a conservação das espécies e seus habitats. Partindo do monitoramento da avifauna de longo prazo como atividade central, essas organizações tornam possível a criação de uma grande base de dados padronizada ao longo do tempo e espaço. Com esses dados é possível então que pesquisadores avaliem, por exemplo, como as mudanças climáticas, a fragmentação e a perda de hábitats estão impactando as populações de aves. O monitoramento também acumula informações sobre indivíduos, espécies, populações e comunidade auxiliando no preenchimento das lacunas no conhecimento, tais como: dados sobre padrões de muda e de plumagem, período reprodutivo, acúmulo de gordura, ocorrência de parasitos, e dinâmica de ocupação do espaço.

No Brasil, os Observatórios de Aves são ainda pouco conhecidos, o Observatório de Aves da Mantiqueira (OAMa) iniciou suas atividades de monitoramento de avifauna em 2018, no município de Resende, RJ. Desde então, já são quatro anos de coleta de dados sistematizados, em estações fixas de anilhamento de aves na Serra da Mantiqueira. O objetivo dessa organização independente e sem fins lucrativos é estabelecer um monitoramento robusto, padronizado e de longo-prazo, buscando também expandi-lo espacialmente de forma a obter uma boa representatividade da diversidade da região. Além disso, o OAMa tem forte base no voluntariado e na capacitação técnica de anilhadores, e neste ano de 2022 deu início ao Programa de Treinamento e Voluntariado em Monitoramento de Avifauna. Para este programa a organização passou a receber trainees selecionados que, por três meses, residem na Estação de Pesquisa do OAMa (Figura 2) e mergulham num treinamento intensivo, prático e teórico, imersos na rotina de atividades de um Observatório de Aves. A dinâmica ocorre da seguinte maneira: o período total de treinamento contempla três meses, com trainees intercalando sua estadia com sobreposição de um mês e meio. Dessa forma, cada trainee recém chegado tem a oportunidade de passar um tempo de aprendizado em conjunto com um trainee veterano.

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Figura 2: Estação de Pesquisa do OAMa, RPPN Fazenda Boa Vista, Bocaina de Minas/MG. Acervo: OAMa.

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O Programa em questão foi inspirado no “Bird Banding Monitoring and Training Program" do Klamath Bird Observatory, e contempla uma programação bem elaborada e direcionada ao método de captura-marcação-recaptura de aves por redes de neblina. Nos primeiros dias os trainees são integrados à dinâmica da organização e logo surgem as primeiras tarefas: ler o Livro Amarelo (Protocolo de Anilhamento do OAMa) e participar da prática de montagem e desmontagem de redes de neblina. Com o decorrer dos dias vem a familiarização com as aves da região através das características sutis de cada espécie como vocalizações e coloração de plumagem. Durante a primeira campanha de anilhamento, os trainees aprendem a registrar e processar os dados coletados em campo (Figura 3) e como executar as pegadas do anilhador e do fotógrafo. Nas campanhas subsequentes, são iniciados na capacitação em extração de aves das redes de neblina sob supervisão dos coordenadores, e por fim passam a processar e anilhar os indivíduos. Todo esse processo ocorre de maneira natural, gradativa e de acordo com o progresso de cada participante.

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Figura 3: Trainees do OAMa durante etapa de processamento da ave. Acervo: OAMa.

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Além da parte prática, o treinamento contempla uma rotina de leitura e discussão de livros e artigos, elaboração de seminários e produção científica. Ainda em paralelo às atividades de pesquisa, há outros projetos que também são realizados pela equipe do observatório, tais como: divulgação científica na internet; educação ambiental com as escolas e comunidade local; participação em eventos na área, onde são divulgados as ações e os resultados da organização; atividades de anilhamento demonstrativo (Figura 4); observação de aves e oferta de cursos teóricos e práticos na área de ornitologia de campo. Importante mencionar que a participação nessas atividades oportuniza o contato com diferentes públicos, favorecendo a formação de redes de contatos que proporcionam trocas mútuas, contribuindo não só para o aprimoramento profissional como também humano dos envolvidos.

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Figura 4: Anilhamento demonstrativo: crianças atentas às aves. Acervo: OAMa.

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Por fim, vale destacar que as ações desenvolvidas pelo OAMa estão equiparadas junto ao Plano de Ação Nacional de Aves da Mata Atlântica e que a organização está aberta para colaborações com universidades, grupos de pesquisa, ONGs, iniciativas de conservação e educação. A proximidade com a comunidade e parceiros fortalece o coletivo, tanto na qualidade quanto na eficiência da busca pelos objetivos. Assim sendo, fica aberto o convite a todos os interessados a conhecer o OAMa e colaborar com os projetos e ações desenvolvidos em prol das aves, dos habitats e de um futuro melhor para o planeta. É esperado que gradativamente os Observatórios de Aves tornem-se mais conhecidos e valorizados no Brasil. Para saber mais sobre o OAMa, visite o website: www.oama.eco.br ou busque nas redes sociais: OAMantiqueira.

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Mais sobre o autor:

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Referências:

DUNN, E. H. Bird Observatories: An Underutilized Resource For Migration Study. The Wilson Journal of Ornithology, 128(4):691-703, 2016.

KLAMATH BIRD OBSERVATORY. Science for informed decision making. Disponível em: <https://klamathbird.org/> Acesso em 12 Jun. 2022.

OBSERVATÓRIO DE AVES DA MANTIQUEIRA. Conservação com Ciência Gerando dados e engajamento para a conservação das aves da Mata Atlântica. Disponível em: <https://www.oama.eco.br/> Acesso em 12 Jun. 2022.

OBSERVATÓRIO DE AVES DO INSTITUTO BUTANTAN. Laboratório do Museu Biológico do Instituto Butantan. Monitoramento de longo prazo. Disponível em: <http://dedoverde.com.br/mbiolab/joomla/index.php/pesquisa/observatorio-de-aves> Acesso em 12 Jun. 2022.

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