Dizem que quando organizamos itens, nos livramos da desordem. Isso não quer dizer nada, pois, para você, qual é o efeito da desordem? Para organizar um armário, classificamos e separamos cada item de acordo com características pré-estabelecidas por nossa imaginação e/ou indução. Convenhamos que há aí um universo de possibilidades. Podemos separar uma gaveta do armário para camisas de manga comprida, aquelas com botão ou gola de certo tipo. Pode ser também por cor, e para cada dia da semana usamos uma cor específica. Para aqueles preocupados com a saúde, os sapatos podem ficar na prateleira mais baixa, assim bactérias e demais contaminantes carregados através das solas dos calçados não passam para outras partes do armário. Perfumes e demais itens que você considera como de higiene pessoal, se ficam no armário, estão sempre juntos, mais fácil de pegar. A prateleira mais alta é de cobertores, são mexidos mais raramente, e por isso ficam em locais que precisam de banco ou escada para alcançar. Para os casados, o lado direito do armário é de alguém, e o esquerdo, de outro alguém. Antes de você discordar de toda essa arrumação, informo: pode não ser nada disso. Os lados podem ser de todos, e misturados, os cobertores podem estar no andar mais baixo, os calçados lá no alto, ou até mesmo juntos. Você pode classificar as camisas como quiser e achar que vestidos são um tipo de camisa. Os perfumes você pode guardar na cozinha. Tanto faz. O seu armário você pode deixar como se sente confortável, não há regras e isso não impacta em nada a vida na terra. Neste contexto doméstico, o que parece desordem para alguém, pode ser ordem para o outro, e essas duas palavras se configuram como conceitos subjetivos.

Figura 1: Autora analisando serpentes
Pois bem, se você imaginou que o armário é uma analogia ao que fazemos na ciência, está enganado. Não é nada disso. A partir daqui a subjetividade de qualquer palavra é substituída por um sentido claro, objetivo e contundente. A biodiversidade não é um acúmulo de itens que a taxonomia descreve e classifica como se bem imagina. A sistemática não é um armário com prateleiras esperando a chegada de itens desgraciosos, como a maioria dos artefatos humanos. Considerada a complexidade da natureza que nos rodeia, rapidamente vemos que de nada nos ajudaria um armário. Desordem, no contexto científico, perturba o futuro, melhor dizendo, impede a continuidade da vida humana no planeta. Não, isso não é um exagero como estratégia de marketing e apelo conservacionista*.
Vejamos dois pontos importantes: 1) como a organização da biodiversidade segue critérios nada subjetivos e 2) o que perdemos com a desordem de nosso conhecimento sobre a natureza.
conservação da biodiversidade