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Série Naturalistas: Charles Darwin
Charles Darwin                           Postado dia 06/05/2021Naturalista inglês. Deixou a vida de clérigo para embarcar no HMS Beagle, a serviço da Marinha Real Britânica. Sua viagem por diversos países resultou em coletas e observações que contribuíram com conhecimentos essenciais na biologia.









Darwin é uma figura bastante famosa; já estando, muitas vezes, diretamente associado à Biologia. Contudo, não podemos dizer o mesmo sobre os passos necessários para chegar às suas descobertas, as quais o tornaram verdadeiramente conhecido.

Para entendermos o impacto das Teorias elaboradas pelo naturalista é necessário relembrar as ideias que circulavam na época. Para começarmos, algumas das mais preponderantes eram o fixismo e o essencialismo. O primeiro, dizia que as espécies teriam sido criadas por deus e que, desde a criação, elas não teriam passado por nenhuma mudança, ou transformação. Já o essencialismo dizia que, para cada ser vivo, existia um tipo ideal; assim, as variantes eram alterações, como um desvio, daquele tipo ideal. Ou seja, não era algo comum e inerente às populações.

Agora, vamos à história do nosso naturalista...
Série Naturalistas - Charles Darwin
Charles Darwin nasceu em fevereiro de 1809, na Inglaterra. Darwin nasceu em uma família abastada, filho de pai médico e com um avô conhecido por algumas de suas várias obras, dado que foi um intelectual importante.

Mas não apenas isso... a família de Darwin era bastante influente na sociedade, tendo participado até mesmo do desenrolar da revolução industrial! Dentre os valores de sua família estavam a livre imprensa e a liberdade de expressão, assim como a oposição à escravidão.

Aos 16 anos, Darwin foi enviado para a Escócia, onde iniciou seu curso de Medicina. Ao longo do curso, Darwin percebeu que a medicina "não era pra ele". Uma evidência disso era que durante as aulas práticas - em que não era utilizado nenhum anestésico - Darwin se sentia extremamente desconfortável. Chegando, muitas vezes, a desistir de acompanhá-las ou, ainda, saindo durante o andamento das atividades.

Apesar dessas decepções, Darwin estava no lugar certo! Em Edimburgo, cidade em que estudava, ele conheceu personalidades extremamente importantes para sua carreira: além de ter tido contato com os estudantes das Ciências Naturais, Darwin conheceu também o Dr. Robert Grant, um médico e zoólogo que o apresentou à obra de J.B. Lamarck.

Logo que os interesses de Darwin começaram, finalmente, a se alinhar - após 2 anos - Charles precisou interromper seus estudos em medicina para seguir o conselho de seu pai e se tornar clérigo - como um perfeito plano B, para aqueles que não têm aptidão para medicina. Foi então que, aos 18 anos, Darwin aceitou o credo da Igreja Anglicana, matriculando-se na Universidade de Cambridge e, de forma bastante inesperada para os leitores do século 21: iniciou seu curso de Artes, que "evidentemente" era um passo importante na carreira de clérigo. Além de Artes, ele também teria aulas de Botânica e Geologia, as quais foram fundamentais em sua vida acadêmica.

Série Naturalistas: Charles Darwin

Figura 2. Universidade de Cambridge

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Além de desfrutar de uma situação financeira privilegiada, Darwin também contava com o benefício de uma rica rede de contatos. A partir de seu primo, Darwin pôde construir uma amizade com o Reverendo e Professor John Stevens Henslow, que era uma referência na pesquisa científica e entusiasta de discussões sobre Ciência.

Admirado pelas aulas do professor, Darwin se aproximou de Henslow de várias formas, fazendo parte até mesmo de suas saídas de campo. Com o tempo, o reverendo tornou-se seu mentor.

Ainda em Cambridge, Darwin leu diversas obras sobre teologia e história natural, incluindo estudos sobre adaptação. Dentre as obras de seu interesse, Dawin leu "Narrativa Pessoal", escrita por Alexander von Humboldt , naturalista super famoso de quem já falamos aqui no blog!

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Em 1831, com seus 22 anos, Darwin finalmente se graduou Bacharel em Artes e estava pronto para iniciar esta nova etapa da sua vida, como clérigo!

Mas como a vida tem uma forma única de nos surpreender, aproximadamente 6 meses após sua formatura, Darwin recebeu uma carta de seu mentor. O reverendo Henslow estava o convidando para viajar a bordo do Beagle! A viagem claramente despertou grande interesse em nosso famoso naturalista, dado que era uma oportunidade para fazer estudos no campo da História Natural, viajando por diversos lugares pelos quais o navio da Marinha passaria, durante os 3 anos previstos para a viagem.

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Mas, apesar de sua fama atual, Darwin começou como um intelectual promissor e, assim, sua função a bordo do Beagle era servir de companhia para o Capitão FitzRoy, enquanto o verdadeiro naturalista a bordo, Robert McCormick, deveria cartografar os lugares pelos quais passavam, na costa sul-americana.

Contudo, um golpe do destino abre caminho para Darwin construir sua influência e contribuir de fato para a Ciência! Isso, pois, chegando no Rio de Janeiro, o naturalista oficial abandonou a viagem, restando a Darwin substituí-lo.


No Brasil, Darwin coleta diversos espécimes, admirado com a biodiversidade do local. Mas, assim como muitos naturalistas, Charles não parou suas observações no campo da biologia, expandindo-a também para as próprias pessoas, moradoras do local. E, horrorizado com as questões por ele observadas, Darwin relata um Brasil onde apenas pessoas pretas faziam o trabalho braçal, referindo-se aos ingleses preconceituosos como "selvagens polidos", como é citado no texto do site "DW Made for minds":

"Vivenciar a escravidão desta forma e constatar a diferenciação absurda feita entre seres humanos certamente o impactou bastante [...] Ele cita muitas vezes exemplos claros de crueldade contra escravos e dá para notar claramente a irritação dele ao discutir a escravidão com Fritz-Roy.” 
- Ildeu Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), citado pelo DW Made for minds
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Durante sua viagem, algumas observações foram essenciais, como a respeito dos fósseis encontrados na Argentina, "a distribuição geográfica do gênero Rhea (ema) e a diversidade da vida animal no arquipélago de Galápagos" (CRBio-01-O Biólogo).

Mas afinal, o que o encontro de fósseis na Argentina significou para a ciência, e para Darwin? A questão mais intrigante foi que, o encontro de fósseis de uma preguiça-gigante datada do Pleistoceno, evidenciava que a vida na Terra não foi sempre a mesma. Ou seja: animais extintos atualmente, existiram no passado. Além disso, Darwin também encontrou fósseis de um animal chamado Gliptodonte, que era bastante semelhante à espécie de tatu que vivia na região!

Outra observação importante diz respeito às emas, e provavelmente só foi possível devido aos hábitos alimentares dos tripulantes do Beagle quando desciam no continente, dado que era um costume a caça de emas (Rhea americana) para alimentação. Mas, durante sua estadia no Rio Grande do Sul, os moradores da região relataram ainda, a existência de uma ave semelhante à Rhea americana, mas com menor porte. O primeiro pensamento de Darwin, naquele tempo, foi que se tratavam de aves mais jovens, pertencentes à mesma espécie. 

Mas, após um dos tripulantes abater uma ema (que foi utilizada como comida, posteriormente), Darwin percebeu que o animal possuía um porte inferior ao comumente observado. Então, após o jantar, Darwin recolheu algumas partes como pernas, pescoço e asas, as quais foram analisadas pelo ornitólogo John Gould. O profissional, curiosamente, identificou que na verdade se tratava de uma outra espécie de ave (nomeada Rhea darwinii, em homenagem à Darwin), que atualmente, é conhecida como Pterocnemia pennata. Este fato levou Darwin a refletir sobre uma dimensão espacial, quando se fala em transição de espécies semelhantes. Pois essas emas, muito similares, viviam em regiões distintas, porém próximas.

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Figura 7. Tartarugas de Galápagos

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Agora, chegamos finalmente ao destino mais famoso do nosso naturalista: Galápagos, em 1835! O arquipélago, formado por ilhas de origem vulcânica, foi estadia dessa tripulação por 5 semanas. Explorando a ilha, Darwin se espantou com a diversidade dos animais: havia desde tartarugas gigantes (de até 300kg!), à iguanas com diferentes hábitos - uma das espécies observadas se alimentava de cactos, dos quais também obtinha água! - e uma avifauna diferenciada!
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Quanto à avifauna, Darwin coletou diversos espécimes de tentilhões. Os materiais, analisados por John Gould, em 1838, foram identificados como pertencentes à diferentes espécies, com bicos diferenciados em forma e tamanho! Analisando a procedência de cada espécie, a partir da coleção de FitzRoy, Darwin percebeu que as espécies estavam separadas geograficamente, habitando diferentes ilhas! Isso o levou a pensar sobre uma espécie ancestral de todas as coletadas que, submetida à determinados fatores em cada ilha, teria levado a diferenciação desse ancestral em diferentes espécies adaptadas para os diferentes alimentos de cada ilha. O mesmo foi observado para outra espécie de ave, da família Mimidae; já estas aves, eram também muito semelhantes a uma espécie comum no continente sul-americano, o que reforçava ainda mais a ideia de Darwin!

“Quando eu vejo essas ilhas à vista umas das outras, e possuindo apenas um escasso sortimento de animais, habitadas por essas aves, apenas ligeiramente diferentes na estrutura, e ocupando o mesmo lugar na natureza, devo suspeitar que são apenas variedades. Se essas observações tiverem o menor fundamento que seja, a zoologia dos arquipélagos será muito merecedora de um exame; pois tais fatos abalariam a estabilidade das espécies.”
- Darwin, citado por O Biólogo, CRBio-01
Série Naturalistas - Charles Darwin
Para conceber sua teoria, além da imensa contribuição de todas as observações feitas, Darwin também foi influenciado por duas ideias principais. Em primeiro lugar, pelo seu contato com as ideias "uniformitaristas" de Charles Lyell, que defendia a ideia de que a Terra passa por pequenas mudanças por longo período, o que causaria efeitos significativos; fazendo Darwin refletir sobre o efeito das mudanças graduais nos seres vivos.

Como um bom intelectual interessado em várias áreas de estudo, Darwin ainda teve contato com o livro de Malthus, que dizia que a tendência é que a humanidade cresça em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos aumentaria em progressão aritmética, o que limitaria o suprimento de alimentos de uma população. A partir disso, Darwin pensou sobre a ideia da competição, a partir da limitação de recursos, influenciar no mecanismo da teoria evolutiva. Assim, refletiu que variações vantajosas para a espécie, presentes em um indivíduo, tenderiam a ser preservadas, enquanto as características desvantajosas tenderiam a ser eliminadas. Isso, inclusive, determinou a seleção natural.

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Após visitar diversos países, Darwin voltou para a Inglaterra em 02 de outubro de 1836. Lá, ele distribuiu os vários espécimes coletados para diferentes especialistas. Dentre os espécimes, havia plantas, mamíferos fósseis, aves, peixes e répteis. Em 1839, já famoso, Darwin passou a integrar a Royal Society of London e, no mesmo ano, se casou com Emma Wedgwood, sua prima. Juntos, eles tiveram 10 filhos, mas apenas 7 sobreviveram.

Série Naturalistas: Charles Darwin

Figura 10. Placa de Charles Darwin, em Westminster

Alguns anos depois, em 1882, Darwin faleceu devido a um ataque cardíaco. O naturalista foi enterrado próximo à Isaac Newton, na abadia de Westminster. Algumas lacunas das Teorias propostas por Darwin foram preenchidas anos depois, com as respostas fornecidas pelos estudos em hereditariedade, como as leis de Mendel, e os modelos de genética de populações. Juntos, esses conhecimentos formam a Síntese Evolutiva Moderna.





                                                                                                                               Texto de Isabella Azevedo

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Referências:

> João Stenghel Morgante e Diogo Meyer. Darwin e a Biologia. O Biólogo - CRBio-01, 2009.

> O que Charles Darwin viu no Brasil. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/o-que-charles-darwin-viu-no-brasil/a-39837311>. Acesso em: maio de 2021.


Crédito das Figuras:

Figura 1.
> "Charles Darwin (1809-1882) at age 7. The chalk drawing is the earliest picture known of Charles Darwin" by Duncharris. Domínio Público.

Figura 2.
> "Clare College (esquerda) e capela do King's College (centro)" by Andrew Dunn. CC BY-SA 2.0.

Figura 3.
> "Darwin em sua juventude e começando sua prestigiada carreira científica. Retrato por G. Richmond" by George Richmond. Domínio Público.

Figura 4.
> "File:Voyage of the Beagle-en.svg" by Sémhur is licensed under CC BY-SA 4.0

Figura 5.
> "HMS Beagle in the seaways of Tierra del Fuego, painting by Conrad Martens during the voyage of the Beagle (1831-1836), from The Illustrated Origin of Species by Charles Darwin, abridged and illustrated by Richard Leakey" by Dave souza. Domínio Público.

Figura 6.
> "Greater Rhea (Rhea americana)" by Peter O'Connor aka anemoneprojectors is licensed under CC BY-SA 2.0

Figura 7.
> "The Galápagos Giant Tortoises (Chelonoidis sp), the Charles Darwin Research Station, Isla Santa Cruz, the Galápagos Islands, Ecuador." by ER's Eyes - Our planet is beautiful. is licensed under CC BY-NC-SA 2.0

Figura 8.
> "Fringilla coelebs on branch" by Martin Kunz. Creative Commons Attribution 3.0

Figura 9.
> "Charles Darwin: Scientific Badass" by CGP Grey is licensed under CC BY 2.0

Figura 10.
> "Charles Darwin at Westminster Abbey" by @dino is licensed under CC BY-NC 2.0