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Série Naturalistas: Nikolai Vavilov
Nikolai Vavilov                            Postado dia 10/06/2021Naturalista soviético. Nikolai Vavilov foi um biólogo importantíssimo na conservação da biodiversidade genética dos vegetais. Entretanto, teve um fim extremamente trágico na União Soviética, sendo vítima do problema que tentou solucionar.









Vavilov nasceu em Moscou, em 1887, em uma família de comerciantes que experimentava certa tranquilidade na vida financeira. Desde a infância, Nikolai já demonstrava grande interesse pela natureza, o que era perceptível em sua coleção de plantas. Segundo o texto publicado por Barry Cohen, na revista Economic Botany, a verdade é que Vavilov criou um pequeno herbário em sua casa!
Série Naturalistas: Nikolai Vavilov

Figura 1. Família Vavilov

Quando jovem, após se dedicar ao estudo da botânica e da genética, e se formar no Instituto de Agricultura de Moscou, em 1913, Nikolai foi para o Reino Unido, onde trabalhou com William Bateson, cientista pioneiro da genética moderna. Todavia, com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, Vavilov retornou para a Rússia

Devido a sua saúde, Vavilov não foi recrutado para lutar por seu país, escolhendo investir seu tempo no trabalho de doutorado sobre a resistência das plantas às doenças, na Universidade de Saratov. Essa pesquisa teria, como principal objetivo, encontrar uma solução para o problema da fome, responsável por matar milhões na Rússia.

Assim, em busca dos dados para sua pesquisa extremamente inovadora, Vavilov iniciou uma série de expedições em busca de sementes variadas, em diferentes países. A ideia de Vavilov era priorizar os países conhecidos pela prática da agricultura, o que também o permitiria entender a evolução das plantas domesticadas.
Série Naturalistas: Nikolai Vavilov

Figura 2. Feijões enviados para o Svalbard Global Seed Vault

Sua primeira expedição, cujo destino era a Pérsia, ocorreu em 1916 e durou três meses. Apesar de alguns contratempos, como sua breve detenção na fronteira pelas autoridades russas - por levantar suspeitas, ao carregar um diário escrito em língua inglesa -, a elevada temperatura das regiões desérticas, a topografia pouco convidativa e a criminalidade; ainda assim, a expedição de Vavilov foi um sucesso. Em suas expedições, ele visitou mais de 60 países, passando inclusive pelo Brasil! Ele também aprendeu diversas línguas, o que o possibilitou conversar diretamente com os agricultores locais.

Em 1920, Vavilov apresentou ao Congresso Pan-Russo, o trabalho "lei da variação homóloga", derivado das coletas realizadas nessas expedições. No estudo, Vavilov sugere que a caracterização do genoma de uma espécie, somada à análise de suas características (flores de cores semelhantes, número de inflorescências, dentre outros fatores) possibilitaria aos cientistas prever como são determinadas características em espécies filogeneticamente próximas àquela, por exemplo. Essa ideia de relação entre grupos foi amplamente aplaudida, resultando nos dizeres de que "a biologia encontrou seu Mendeleev", associando-o ao criador da primeira versão da tabela periódica. Ainda em vida, Vavilov encontrou evidências que demonstravam que sua teoria estava correta.

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Mas, a história desse naturalista não foi nada fácil e, como se não o bastasse, em sua expedição ao sul da Síria, ele ainda teve o desprazer de ser infectado pelo parasito causador da malária e, na Etiópia, contraiu tifo. Mas, nada derrubava esse naturalista portador de um grande sonho.

Com suas tantas viagens pelo mundo, Nikolai começou a se tornar conhecido internacionalmente, chegando a ser convidado a assistir ao Congresso Americano de Patologista dos Cereais, o que segundo Cohen, citado pelo Instituto Humanitas Unisinos, tratava-se de um convite de imensa importância, dado que foi "o primeiro exemplo de cooperação científica entre os Estados Unidos e a recém-criada União Soviética".
Série Naturalistas - Georg von Langsdorff

Dos 33 a meados de seus 50 anos, Vavilov foi diretor da Academia Lenine de Ciências Agrícolas da União, hoje chamada Instituto Vavilov da Indústria Vegetal da União - em sua homenagem - e, ainda, publicou diversos artigos na área de genética, biologia e seleção vegetal.

Nikolai também foi nomeado membro da Sociedade Linneana e da Academia de Ciências da União Soviética. Além disso, Nikolai realizou outras ações importantes, como inaugurar 400 estações experimentais pela União Soviética, as quais empregavam aproximadamente 20.000 pessoas.

E Nikolai não parou por aí... juntamente com seus alunos, ele coletou aproximadamente 200.000 sementes na União Soviética e do mundo. Seu trabalho, que objetivava causar um grande impacto na sociedade, dando fim à fome por meio de um banco de sementes que poderia ser usado como um repositório de safras, deu origem ao primeiro banco mundial de genes de plantas do mundo - segundo Valery Soyfer, citada pelo Instituto Humanitas Unisinos.

Mas, em meio a tantas conquistas, também houveram trágicas derrotas. Na vida de Vavilov, o que pode ser considerado o início de seu fim foi o contato com Trofim Lysenko, um camponês. Lysenko, que não dispunha de diploma universitário, possuindo apenas um treinamento em melhoramento genético, semeava ervilhas no Laboratório de Melhoramento de Plantas de Gandzha, no Azerbaijão - segundo Lee Alan. Apesar de seu trabalho relativamente simples, Lysenko convenceu um repórter de que estava fazendo maravilhas em sua colheita, afirmando que o rendimento da mesma estava acima da médiaApós publicado o artigo derivado dessa entrevista, Lysenko chegou aos holofotes, ganhando os olhares até mesmo de Josef Stalin.
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Alçando mentiras ainda maiores, Lysenko afirmou que por meio de sua técnica chamada "vernalização", o rendimento das safras da União Soviética poderia dobrar, em poucos anos. Ainda, afirmou que os descendentes das plantas submetidas a essa técnica também apresentariam maior rendimento. Apesar de não ter nenhuma evidência verdadeira, suas palavras encantaram a muitos... incluindo Stalin, que se tornou um de seus maiores admiradores.

Além das muitas invenções mentirosas, Lysenko aproveitou o momento para desacreditar o trabalho de pesquisadores defensores da genética mendeliana (ocidental), considerados como "sabotadores", por ele.

Em meio aos discursos tão atraentes, o próprio Nikolai acreditou que Lysenko seria um cientista de primeira categoria, na década de 1920. Mas, com o tempo, Vavilov começou a refletir sobre a hipótese de que os resultados de Lysenko poderiam ser produzidos e irreais. Sem poder provar sua hipótese, Vavilov se transformou em um grande oponente de Lysenko e, consequentemente, de Stalin.

Como resultado, Nikolai foi impedido de embarcar em novas viagens a partir de 1933. Mas, o pior ainda estava por vir... Em 1940, após se envolver em discussões com Lysenko - que saiu como vitorioso nessa história -, Vavilov foi capturado pela polícia secreta soviética e preso sob a justificativa de liderar organizações anti-soviéticas, com a intenção de levar a agricultura socialista do país ao colapso. Na época, Vavilov foi mantido na prisão de Lubyanka, onde foi submetido a interrogatórios brutais, por aproximadamente 11 meses.

Um ano após ser capturado, Vavilov e dois colegas foram condenados à morte. Estes últimos morreram fuzilados, mas para sorte ou azar de Vavilov, sua sentença foi alterada e, agora com seus 50 e poucos anos, ele precisaria cumprir 20 anos de prisãoTodavia, essa pena jamais fora cumprida: após 2 anos preso em uma cela subterrânea, sem nenhuma luz externa, dado que não haviam janelas no local, Nikolai contraiu escorbuto. Ainda assim, nem o escorbuto derrubou esse naturalista... 

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Figura 6. Busto de Nikolai Vavilov

Porém, a fome e a desnutrição, inimigas mortais por quem Vavilov nutria o sonho de destruir, o alcançou em 1943, quando ele faleceu. Aproximadamente 1 década depois de sua morte, após o governo soviético ser pressionado pela "violação grosseira" da lei, o julgamento de Vavilov foi dado como farsa e sua condução foi considerada tendenciosa e pouco objetiva.
Série Naturalistas - Georg von Langsdorff
Apesar dos absurdos vivenciados pelo cientista, Vavilov deixou sua importante contribuição para a humanidade. Um exemplo desse resultado é o Instituto de Indústria Vegetal da União ser renomeado em sua homenagem, sendo hoje conhecido como: "Instituto de Pesquisa Científica da Indústria Vegetal NI Vavilov All-Russian".

Além disso, o "Svalbard Global Seed Vault", um enorme silo para sementes, construído em 2008, possui 60 caixas de sementes provenientes do Instituto de Pesquisa Científica da Indústria Vegetal NI Vavilov All-Russian. Nessas caixas, onde estão guardados espécimes de 148 espécies e 41 gêneros - segundo o historiador Lee Alan Gugatkin -, grande parte das sementes são descendentes daquelas coletadas pelo próprio Nikolai Vavilov.





                                                                                                                             Texto de Isabella Azevedo

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Referências:

> Nikolai Vavilov: o primeiro guardião da biodiversidade vegetal. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/553031-nikolai-vavilov-o-primeiro-guardiao-da-biodiversidade-vegetal>. Acesso em: junho de 2021.

> The Botanist Who Defied Stalin. Lee Alan Dugatkin. Disponível em: <https://nautil.us/issue/99/universality/the-botanist-who-defied-stalin?fbclid=IwAR04afGZ3gCfuIBNwWVaHbInoGtP5bGF2GRSCpiDGWyjm9KSAvWwoj9LDAY>. Acesso em: junho de 2021.


Crédito das Figuras:

Figura 1.
> "Photo of Nikolay Ivanovich Vavilov (1887-1943), Sergey Ivanovich Vavilov (1891-1951) and their mother Aleksandra Mikhailovna" by Unknown author (autor desconhecido) under Public domain

Figura 2.
> "CIAT beans shipped to Svalbard Global Seed Vault" by Global Crop Diversity Trust is licensed under CC BY-NC-ND 2.0

Figura 3.
> "Crop Trust visits the N.I. Vavilov Institute of Plant Genetic Resources" by Global Crop Diversity Trust is licensed under CC BY-NC-ND 2.0

Figura 4.
> "File:NI Vavilov Institute for Plant Industry (VIR) east building (April 2010) - panoramio.jpg" by Dag Endresen is licensed under CC BY 3.0

Figura 5.
> "Soviet pseudoscientist Trofim Denisovich Lysenko" by Unknown author (autor desconhecido) under Public domain

Figura 6.
> "File:NIVavilov Voskresenskoe bust.jpg" by sculpture: Konstantin Sergeevich Suminov (1917—2002); photo: Sealle is licensed under CC BY-SA 3.0 

Figura 7.
> "Svalbard Global Seed Vault Entrance" by Global Crop Diversity Trust is licensed under CC BY-NC-SA 2.0